População e trabalhadores juntos contra privatização dos estaleiros de Viana do Castelo

02-10-2012

Mais de 2 mil pessoas, trabalhadores e reformados dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) bem como população da cidade, saíram esta segunda-feira à rua, na maior manifestação de sempre, protestando contra a privatização da empresa.

António Costa, coordenador da Comissão de Trabalhadores, apelou a que todos os sectores da sociedade vianense se mobilizassem para este protesto do dia 1 de Outubro. O responsável lembrou que esta é uma situação que não afecta só os trabalhadores da empresa, mas todo o concelho de Viana do Castelo e as mais diversas áreas de actividade. 

A comissão de trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) acusa o ministro da Defesa de arruinar a empresa, depois de revogado o contrato de 2004 para reequipamento da Marinha. O Conselho de Ministros revogou ontem a resolução que encomendava a construção de seis navios patrulha oceânica e cinco lanchas de fiscalização costeira aos ENVC, negócio de cerca de 400 milhões de euros.

Segundo descreve a Lusa, durante mais de uma hora, trabalhadores e população, com cartazes críticos à actuação do Ministério da Defesa, contestaram duramente o processo de privatização em curso e a indefinição dos últimos dois anos. A manifestação partiu da porta da empresa e, ao longo de cerca de três quilómetros, percorreu as principais ruas de Viana do Castelo, até terminar na Praça da República.

«Temos vivido um clima de terrorismo psicológico que nos tem sido imposto pela administração. Temos trabalho para fazer e não nos deixam», acusou o coordenador da Comissão de Trabalhadores dos ENVC, por entre gritos de «gatunos» e «traidores» dirigidos ao Governo e aos seis deputados eleitos por PSD, CDS e PS no distrito de Viana do Castelo.

«Estes senhores [Governo] querem, desde a primeira hora, livrar-se da empresa. Deviam ter vergonha por nos terem tirado a mais-valia que eram os contratos para a Marinha», sublinhou António Costa perante as 2 mil pessoas que encheram por completo a principal praça da cidade.

Os trabalhadores insistem que está «em preparação um roubo” à região, prevendo que a venda dos ENVC será feita por um euro «ou nem isso». «Provavelmente, ainda vão pagar aos privados para ficarem com a empresa, para estes a desmantelarem mais tarde», afirmou António Costa.

Afirmou ainda que os trabalhadores dos ENVC «estão cansados», mas «vão continuar a lutar, até às últimas consequências», pela manutenção da empresa dentro do sector empresarial do Estado.

Além de dezenas de cartazes e cerca de 250 camisolas negras com afirmações «contra a reprivatização» dos ENVC, a manifestação de hoje levou ainda Sebastião Almeida, trabalhador de 51 anos e com mais de trinta de casa, a carregar às costas uma cruz em madeira com trinta quilos. «É o símbolo do calvário que estamos a viver há dois anos. Chegar todos os dias à empresa para trabalhar e não nos deixarem fazer nada», explicou à agência Lusa este trabalhador, recriando uma cena de crucificação de Jesus Cristo.

 

O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, também integrou a manifestação, afirmando que a venda da empresa representa um «crime de lesa-pátria», tendo em conta a sua importância estratégica.

«Tem de ser condenado. É mais um negócio de arranjos como outros que têm sido feitos. Alguém pensa em vender uma jóia de que precisa para desenvolver a construção naval», interrogou-se o líder da Intersindical, reclamando «medidas patrióticas» em defesa da empresa.

Nesta manifestação marcou ainda presença o deputado comunista Agostinho Lopes, do partido que solicitou a apreciação parlamentar ao processo de reprivatização dos ENVC e que será discutida na quinta-feira na Assembleia da República.

O Conselho de Ministros definiu quatro potenciais investidores finais – de Portugal, Brasil, Noruega e Rússia – para a alienação do capital social dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), empresas que devem apresentar as propostas vinculativas até 12 de Outubro.

O «preço vinculativo apresentado para a aquisição das acções representativas do capital social» dos ENVC é um dos critérios de selecção da venda de 95 por cento do capital social, que será alvo de «venda directa de referência» a concluir até final do ano.

 

Fontes

Notícia da Lusa via SOL e Bloco de Esquerda.

Antena Minho

Rádio Geice

 

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