por LA
Os jornalistas da Lusa estão em greve e têm-se desmultiplicado em várias acções para alertar a opinião pública para a sua luta. Reclamam que «destruir a agência Lusa é atacar a democracia» pois «o que está em causa é o direito dos cidadãos à informação». É um facto que grande parte das notícias que lemos nos jornais e na televisão provêm da Lusa. Mas isso não é só por si uma garantia de liberdade de expressão, visto que são conhecidos factores de censura interna que – contra a vontade dos próprios jornalistas – se sobrepõem.
Poderíamos dizer até que a uniformização e o monolitismo da informação actual provêm precisamente da hegemonia da Lusa – sem que os seus jornalistas tenham disso culpa. Os trabalhadores da Lusa têm razão, como a têm todos os que lutam pelo direito ao trabalho.
Nestes 4 dias de greve, são mais de mil notícias que ficam por dar e que os outros jornais vão ter que suprir com recursos próprios. Concretamente, vejamos o que dizem os jornais sobre a greve na Petrogal. Nem uma notícia online no Público, no Diário de Notícias, no Correio da Manhã ou no Expresso. Apenas a RTP veicula as razões dos trabalhadores em greve. Os restantes pasquins – TSF, Dinheiro Digital, Dinheiro Vivo – limitam-se a reproduzir o comunicado da GALP que anuncia 6% de adesão à greve, sem se lembrarem de sondar os números dos trabalhadores – que reclamam 90% de adesão e a paralização das refinarias. Note-se que bastavam poucos cliques para chegar ao site do sindicato Fiequimetal ou um telefonema para falar com eles directamente. Que raio de jornalismo é este?
Mas também os jornalistas do Público estiveram na sexta-feira 19/10 em greve, pela defesa dos seus postos de trabalho e do seu «jornal de referência». Há que estranhar contudo as notícias divulgadas – anteriores à sua paralisação – acerca da greve nos portos. Estas notícias primam por lançar o descrédito na luta dos trabalhadores portuários, acusando-os de terem salários de 5000 euros ou de provocarem um enorme prejuízo na indústria cervejeira. Reproduzem fielmente comunicados das entidades patronais e não procuram sequer saber as razões dos trabalhadores, apesar de bem divulgadas no último mês de luta. Atrevem-se por isso a dar voz àqueles que exigem uma requisição civil dos estivadores, sem ponderar que tal não é possível, porque a greve é só às horas extraordinárias. Que raio de jornalismo é este?
É que, como lembra o jornal Mudar de Vida, «se o problema são as exportações têm bom remédio: pressionem o governo para atender as reclamações dos estivadores». Ressalva-se, mais uma vez, a excepção meritória da RTP que ouviu directamente os trabalhadores. Mas parece que a informação que dá voz às duas partes de um conflito não é fazível nos grandes jornais.
Porque a precarização dos jornalistas não é um cenário de futuro «que terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia», como vem alertar o Manifesto «Pelo jornalismo, pela democracia». Já vem muito de trás a «perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade» da informação – que os seus trabalhadores agora reclamam, dizendo que «o jornalismo é um serviço que está no coração da democracia». Mas, pelos vistos, não é o que pensam aqueles que defenderam ontem que «em crise, os jornalistas devem pensar no negócio».
Os jornalistas em greve merecem a nossa solidariedade, porque são trabalhadores em risco de perder o emprego como tantos outros. Esperamos que, caso consigam manter os seus postos de trabalho, não se esqueçam no futuro de exercer alguma solidariedade com os trabalhadores dos outros sectores de actividade – pelo menos dando-lhes o benefício da palavra e do contraditório e verificando a veracidade e fiabilidade dos comunicados das direcções das empresas em conflito com os trabalhadores.