por LA
Na Grécia, está a tornar-se deveras preocupantes a onda de discriminação e violência incentivada pelo partido neo-nazi, que conseguiu ter representação parlamentar nas eleições de Junho 2012. Desde então, o Aurora Dourada tem aumentado as suas agressões xenófobas contra imigrantes, mas não só: também militantes de esquerda, anarquistas, homossexuais e agora judeus, têm sido alvo de insultos, ameaças e perseguição.
Num comunicado de 23 de Fevereiro, Giorgos Mitralias lança o alerta para fora das fronteiras da Grécia para mais uma escalada agressiva: «os neo-nazis acabam de anunciar um ataque contra o seu camarada Moisis Litsis», com base na sua origem judaica.
Sob o título «ESIEA (o sindicato dos jornalistas na Grécia) tem um judeu por tesoureiro», a revista neo-nazi Stohos publicou uma «nota biográfica» de Moisis referindo-se a todas as suas actividades políticas e sindicais das últimas duas décadas. O libelo expressamente racista acaba com a seguinte frase:
«Ele fala perfeitamento hebraico, adora Israel, ainda que se declare anti-sionista (mas quem pode acreditar nisso?)!... Nas assembleias-gerais do ESIEA, em vez de falar dos problemas dos jornalistas gregos, Moisis Litsis gosta de falar sobre o Holocausto judeu e a necessidade de condenar o Aurora Dourada" (partido neo-nazi grego)»
Giorgos Mitralias, que faz esta denúncia, é coautor do Manifesto Antifascista Europeu, lançado no início de Janeiro 2013 e já traduzido em várias línguas, manifesto a que a coligação de esquerda Syriza já deu o seu apoio, considerando que é um «primeiro passo para reunir todas as forças democráticas e antifascistas europeias numa acção comum».
O dia 19 de Janeiro passado foi ocasião para uma grande manifestação antifascista em Atenas e muitas outras manifestações de solidariedade em várias cidades europeias.
Paquistaneses na manifestação antifascista de Atenas em 19 Janeiro 2013. Foto JOANNA P.
O movimento UAF - Unite Against Fascism, sedeado em Inglaterra, apelou à solidariedade com a Grécia, usando o slogan «Nazis out!» para exigir o fim dos campos de concentração na Grécia e o direito à cidadania para todos os filhos de imigrantes. Sobre este assunto, ver artigo de A Folha: Crise social alimenta clima de xenofobia na Grécia.
O UAF considera o partido neonazi grego «indesejável» bem como as políticas racistas de criação de campos de concentração para imigrantes na Grécia, que apelidam de «bárbaras». Acusam os ricos e os governos como responsáveis por esta crise que semeia pobreza e privação, leva a suicídios, gera sem-abrigos, envia as pessoas para a sopa-dos-pobres e faz dos imigrantes bodes expiatórios, tal como Hitler quando perseguiu os judeus.
Ora, precisamente, é o ataque aos judeus que agora renasce, através da biografia anti-semita feita ao jornalista Moisis Litsis. Litsis dirigiu a recente luta dos trabalhadores do jornal Eleftherotypia, que durou oito meses, e é um dos fundadores do comité grego contra a dívida (CADTM Grécia) e, mais recentemente, parceiro do lançamento da iniciativa europeia antifascista, incluindo o respectivo manifesto (que traduziu para hebraico).
O comunicado alerta: «É desnecessário dizer que levemos a sério este tipo de ataques racistas de Stohos e dos seus seguidores, tendo em conta todos os homicídios e a violência desenvolvida pelos neonazis gregos no último ano». Por isso apelam à solidariedade antifascista europeia no apoio e protecção de Moisis Litsis.
Outro episódio do furor nazi na Grécia foi, por exemplo, a recente entrada de partidários do Aurora Dourada num hospital público de Tripoli no Peloponeso, na noite de 6 para 7 de Fevereiro, para investigar se haveria enfermeiros imigrantes em situação ilegal. O ministro da Saúde grego destituiu a directora do hospital, Eleni Sourouni, que tinha permitido a entrada destes acólitos de que é simpatizante. Em Dezembro passado, dois deputados do partido Aurora Dourada foram impedidos de entrar no parlamento por estarem armados.
Enquanto espalha o terror e o racismo, o partido neo-nazis conquista a benevolência dos gregos, distribuindo alimentos aos famintos de Atenas, com exclusão dos imigrantes. Para já não falar das perseguições e assassinatos que ocorrem diariamente em Atenas a imigrantes com base apenas na sua cor de pele, perante a complacência da polícia, que conta nas suas fileiras com uma grande percentagem de adeptos deste partido.
Distribuição gratuita de comida, em Atenas, por membros
da extrema-direita – apenas para cidadãos gregos, não para imigrantes.
Fotografia: Louisa Gouliamaki/AFP, 13.11.2012
Como nos anos vinte e trinta, a causa geradora dessa ameaça neofascista e de extrema-direita é a profunda crise económica, social, política, bem como ética e ecológica, do capitalismo, o qual, a pretexto da crise da dívida, leva a cabo uma ofensiva sem precedentes contra o bem-estar social, as liberdades e os direitos dos trabalhadores: uma ofensiva contra os de baixo! Aproveitando o medo dos ricos face ao risco de explosão social e de radicalização da classe média esmagada pela crise e pelas medidas draconianas de austeridade e o desespero dos desempregados marginalizados e empobrecidos, a extrema direita e as forças neonazis e neofascistas crescem em toda a Europa; massificam a sua influência junto das camadas deserdadas, que viram sistematicamente contra os tradicionais e novos bodes expiatórios (imigrantes, muçulmanos, judeus, homossexuais, deficientes,...), bem como contra movimentos sociais, organizações de esquerda e sindicatos.
A influência e a radicalidade dessa extrema direita não é igual em toda a Europa. No entanto, a generalização de políticas draconianas de austeridade faz com que a subida da extrema direita seja um fenómeno quase geral. A conclusão é óbvia: o facto de a ascensão impetuosa da extrema direita e de a emergência de um neofascismo ultra-violento não serem mais a excepção que confirma a regra europeia, obriga os antifascistas do continente a enfrentarem a verdadeira dimensão do problema, ou seja, a resolverem o problema à escala europeia!
Mas dizer isto não chega, é preciso acrescentar que a luta contra a extrema-direita e neonazismo é uma urgência absoluta. Na verdade, em vários países europeus a ameaça neofascista já é tão directa e imediata que transforma a luta antifascista num combate de primeira necessidade, estando em jogo a vida ou morte da esquerda, das organizações sindicais, das liberdades e dos direitos democráticos, dos valores da solidariedade e da tolerância, do direito à diferença. Dizer que estamos envolvidos numa corrida de velocidade contra a barbárie racista e neofascista é uma realidade que se verifica, todos os dias, nas ruas das nossas cidades europeias...
Dada a profundidade da crise, a dimensão do desgaste social que provoca, a intensidade da polarização política, a determinação e a agressividade das classes dirigentes, a importância histórica do confronto em curso, a dimensão da subida das forças de extrema direita, é evidente que a luta antifascista constitui uma opção estratégica que exige formas sérias de organização e investimento político e militante a longo prazo. Em consequência, a luta antifascista deve manter grande proximidade ao combate quotidiano contra as políticas de austeridade e o sistema que as gera.
Para ser eficaz e responder às expectativas da população, a luta antifascista deve organizar-se de maneira unitária e democrática e ser fruto da iniciativa das massas populares. Para tal, os cidadãos e as cidadãs devem organizar, eles mesmos, a luta antifascista e a sua autodefesa. Ao mesmo tempo, para ser eficaz, essa luta deve ser global, opondo-se à extrema-direita e ao neofascismo em todos os locais em que se manifeste o veneno do racismo e da homofobia, do chauvinismo e do militarismo, do culto da violência cega, da apologia das câmaras de gás e de Auschwitz. Em suma, para ser eficaz a longo prazo, a luta antifascista deve propor uma outra visão da sociedade, diametralmente oposta à que é proposta pela extrema-direita: quer dizer, uma sociedade baseada na solidariedade, na tolerância e na fraternidade, na recusa do machismo, na rejeição da opressão das mulheres, no respeito pelo direito à diferença, pelo internacionalismo, pela proteção escrupulosa da natureza e pela defesa dos valores humanistas e democráticos.
O movimento antifascista europeu deve ser o herdeiro das grandes tradições antifascistas do continente! Com esse objectivo, deve construir as bases de um movimento social dotado de estruturas, com uma actividade quotidiana, penetrando toda a sociedade, organizando em rede os cidadãos antifascistas de acordo com as suas profissões, os seus locais de habitação e as suas sensibilidades, lutando em todas as frentes da actividade humana e assumindo em pleno a protecção física dos cidadãos mais vulneráveis, dos imigrantes, dos ciganos, das minorias nacionais, dos muçulmanos, dos judeus ou dos homossexuais, de todos aqueles que são sistematicamente vítimas de racismo de Estado e da máfia fascista.
É porque a necessidade de uma mobilização antifascista, a nível europeu, se torna cada dia mais urgente que nós, que assinamos este manifesto, apelamos à criação de um Movimento Antifascista Europeu, unitário, democrático e de massas, capaz de enfrentar e de vencer a peste negra que ergue a cabeça sobre o nosso continente. Faremos tudo para que o congresso constitutivo do Movimento Antifascista Europeu, que tanto necessitamos, se realize em Atenas, na Primavera de 2013, e surja a par de uma grande manifestação antifascista europeia a realizar nas ruas da capital grega.
Desta vez, a história não se deve repetir !
NÃO PASSARÃO !
Yorgos Mitralias- Michael Lowy
Tradução Maria da Liberdade