Neste conjunto de editoriais se definem os objectivos, conteúdos e estilos de A FOLHA.
Decidimos avançar com um projecto experimental de comunicação – um jornal polimórfico (digital e em papel) que conta com a participação dos movimentos sociais para a produção e divulgação dos conteúdos informativos.
O nosso objectivo inicial é simples: tornar os movimentos e as lutas sociais mutuamente visíveis de norte a sul do país. Se pudermos contribuir para quebrar a sensação de isolamento de muitos desses movimentos, consideraremos vencida a primeira meta.
Esperamos poder também contar no futuro com o despertar de alguns profissionais para a possibilidade de gerar um outro jornalismo, um outro modo de estar na actividade da informação, uma outra maneira de reflectir o mundo.
Os acontecimentos políticos e sociais em 2011-2012 fizeram sentir com particular premência uma falha na sociedade portuguesa: a escassez de órgãos de informação que não estejam ao serviço dos interesses económicos.
Ainda que toda a informação necessária ao entendimento dos acontecimentos esteja disponível na rede digital, ela encontra-se dispersa; exige muitas horas de investigação, coisa de que poucos trabalhadores podem dispor.
Desde o Verão de 2011, um número significativo de activistas dos movimentos sociais tem exprimido a vontade de criar um órgão de informação independente dos interesses económicos; mas as perspectivas sobre a natureza de um tal projecto necessitam de tempo para amadurecerem um acordo e criarem condições materiais e organizativas para avançar. Entretanto o tempo urge.
Decidimos por isso avançar com um projecto experimental, relativamente modesto nos seus objectivos – um órgão de informação sem pretensões doutrinárias, que deverá crescer com a experiência, com a participação crescente dos movimentos sociais na produção dos conteúdos do jornal, com o despertar de alguns profissionais para a possibilidade de gerar um outro jornalismo, um outro modo de estar na actividade da informação, uma outra maneira de reflectir o mundo.
A Folha define-se por ter um foco social, ser polimórfica e ter independência financeira. Define-se também pela forma como autoafere o seu interesse, por um conjunto de regras editoriais e por uma ideia de desenvolvimento a longo prazo.
As notícias publicadas pel’A Folha centram-se no interesse imediato dos trabalhadores. São os trabalhadores, de preferência através das suas organizações e dos movimentos cívicos de cidadãos, a origem directa e o assunto das notícias. Os artigos são depois editados e documentados pela equipa d'A Folha.
São sujeitos preferenciais das notícias:
A sede do jornal A Folha é na Internet. Aí se publicarão todas as notícias recolhidas e editadas, divididas por secções. No entanto A Folha pode assumir outras formas.
Consideramos importante disponibilizar uma versão impressa, passível de ser largada em cima duma mesa de café, transportada no bolso, lida no autocarro, anotada, oferecida. Esta versão será muito mais modesta (em número de páginas, periodicidade, etc.), reduzindo-se a uma folha A3 dobrada e impressa em frente e verso.
Por outro lado, este é um projecto sem patrocínio económico ou publicitário, não podendo por isso sustentar a impressão das folhas. Tão-pouco queremos ficar nas mãos dos intermediários e distribuidores, por onde fatalmente teria de passar uma edição impressa.
A solução encontrada foi a de publicar na rede digital uma versão em folha simples, pronta a ser impressa por qualquer cidadão ou organização que a queira distribuir.
A notícia nasce das acções de cidadania e militância; é transmitida por esses movimentos à nossa redacção, onde é editada e organizada de forma sistemática; retorna à sua origem por via digital – e aí quem a originou passa a ter a responsabilidade da sua difusão em papel. A nós cabe-nos a tarefa da recolha e difusão em rede digital.
A Folha aspira assim a tornar-se um instrumento polimórfico, um circuito de informação capaz de aferir a justeza e o interesse da sua própria actividade – que, em princípio, será proporcional ao interesse dos movimentos sociais.
Numa primeira fase A Folha arranca apenas sustentada pelo voluntarismo duma pequena equipa.
Evidentemente esta situação não pode arrastar-se por muito tempo. Prevemos que ao fim de 3 a 6 meses o projecto possa esgotar-se, se não forem encontradas fontes de financiamento. Entendemos que este financiamento terá necessariamente de ser independente do poder económico e do poder político institucional, sob pena de esvaziar os objectivos propostos.
Espera-se que o interesse do projecto possa gerar fontes de autofinanciamento.
Embora seja externa ao jornal a origem produtiva das notícias, elas terão de passar pelo crivo da equipa redactorial d'A Folha para garantir um conjunto de princípios:
Princípio da idoneidade – As notícias contêm referência obrigatória à fonte donde provêm (sendo esta responsável pelos dados fornecidos); ainda assim a equipa redactorial deve tentar confirmá-las por outras vias. Não podem ser publicadas notícias baseadas em opinião pessoal, ou notícias vindas do «éter» ou do «espírito santo de orelha» (de que são exemplo típico grande parte das notícias de encomenda política difundidas pelas agências noticiosas e reproduzidas cegamente pela esmagadora maioria dos órgãos de informação). Os artigos de opinião ou sem fonte de dados serão remetidos para a secção de opinião.
Princípio da responsabilidade individual – As notícias devem ser assinadas por quem as produziu e editou.
Princípio da participação colectiva – Todos os movimentos sociais dos trabalhadores podem contribuir com notícias relativas à sua actividade, problemas e interesses, bem como para as propostas de melhoramento do jornal.
Nota: Este princípio não obriga A Folha a publicar artigos dos movimentos sociais que consistam essencialmente em opiniões particulares sem base factual ou ataques pessoais (a outros trabalhadores ou seja quem for).
É proibido o novo Acordo Ortográfico.
A urgência do projecto leva-nos a avançar com ele numa base experimental – que, de resto, nos agrada como princípio de acção, por contraponto à fórmula adquirida. As capacidades iniciais do projecto são muito limitadas; espera-se que cresçam rapidamente e que comecem a surgir contributos de todas as partes do país.
A falta de jornalistas profissionais que integrem o projecto de início não nos assusta. Pelo contrário, esperamos que a participação de pessoas que não foram formadas nas escolas de comunicação social permita combater décadas de vícios de informação. Mas a participação de jornalistas – ou seja, pessoas inteiramente dedicadas à comunicação social – capazes de repensarem a sua própria actividade e métodos é um valor inestimável que esperamos poder vir a adquirir no futuro.
Decidimos avançar com um projecto experimental de comunicação – um jornal polimórfico (digital e em papel) que conta com a participação dos movimentos sociais para a produção e divulgação dos conteúdos informativos.
Objectivo inicial: tornar os movimentos e as lutas sociais mutuamente visíveis de norte a sul do país, quebrar a sensação de isolamento de muitos desses movimentos.
Ver o conjunto de princípios fundadores [2] que orientam o nosso trabalho.
Não fazemos de conta que não pertencemos a este mundo, que não temos nada a ver com interesses estabelecidos, como se fôssemos deus nos céus. A equipa deste jornal sabe que tem de escolher um campo logo à partida, de definir o que é notícia e o que não é – como, de resto, fazem todos os órgãos de informação. O nosso campo de eleição é o dos trabalhadores, com exclusão de todos os outros.1
São notícia as acções, reuniões, métodos de trabalho e experiências organizativas dos trabalhadores; são notícia as suas lutas; as suas actividades lúdicas; os ataques directos que lhes forem dirigidos, a forma como respondem a eles, as suas reivindicações, etc. São notícia os actos políticos concretos que afectam a vida e o futuro dos trabalhadores.
Promessas, declarações opinativas, guerras de capoeira política não são notícia. Quando um político promete redução de impostos se um dia for eleito, isso não é notícia – é uma promessa de notícia e provavelmente uma tentativa de manipulação da informação. Quando os impostos forem de facto aliviados, então sim, isso será uma notícia.
A maioria dos jornais vai buscar as notícias às agências noticiosas (ao serviço de grupos económicos), ou ao «espírito santo de orelha» (contactos partidários e governamentais), ou às administrações das empresas.
O nosso jornal vai buscar as notícias directamente à fonte dos movimentos sociais: comissões de trabalhadores, comissões de bairro, sindicatos, movimentos cívicos.
As notícias podem ser-nos enviadas directamente pelas organizações e movimentos. Podem ser sugeridas por leitores e colaboradores, desde que a idoneidade da notícia seja verificável. Depois de recebidas são postas em conformidade com os nossos princípios editoriais e de estilo, e publicadas.
Primeiro, através da página electrónica do jornal. Depois, através de edições periódicas em formato A3 ou A4, publicadas na nossa página e prontas a descarregar e imprimir.
O nosso público-alvo não só tem uma responsabilidade na criação de notícias, mas também é responsável pela sua distribuição.
Porque sai caro – tão caro que seríamos forçados a perder a nossa independência económica e política; porque a distribuição do jornal no circuito comercial nos poria inteiramente à mercê dos distribuidores (que defendem os mesmos interesses dos proprietários dos grandes órgãos de comunicação).
Só pode vir do mesmo sítio donde vêm e para onde vão as notícias: os trabalhadores. Seja através de donativos, seja através da venda de exemplares impressos por iniciativa local, seja através de outras iniciativas que deixamos à imaginação do nosso público.
Vamos fazer a folha àqueles que desinformam, exploram e oprimem 99% da população! Junta-te a nós!
Colabora connosco enviando notícias ou apontamentos de notícias.
E por fim, se tens tempo livre, junta-te à nossa equipa.
[1] Em resposta à dúvida expressa por alguns leitores sobre o sentido de dedicarmos esta publicação em exclusivo aos trabalhadores, recordamos que a expressão «trabalhadores» no contexto político designa todos aqueles que dependem da venda da sua força de trabalho ao longo da vida - quer sejam trabalhadores no activo, reformados, desempregados, inválidos, imigrantes, donas-de-casa, etc. - por oposição a quem vive de uma renda obtida à custa da força de trabalho alheia.
Ver resposta a todas estas perguntas em Como Funciona Este Jornal? [4]
Ver também a definição do jornal em Editorial Fundador [2], em Quem somos [5], e em Junta-te a nós! [6]
Como se diz no editorial fundador [2], quisemos criar um instrumento que favorecesse a visibilidade mútua dos movimentos sociais; que assentasse nos trabalhadores em geral, e em particular os trabalhadores organizados autonomamente, como único sujeito legítimo das notícias.
Propomo-nos recolher os relatos, documentos e notícias produzidas pelos movimentos sociais.
A nossa tarefa consiste em editar o material recebido, conferindo-lhe coerência e credibilidade.
À data do lançamento experimental do projecto, em 15-set-2012, a situação da nossa equipa é a seguinte:
Rui Viana Pereira
Esta direcção pretende-se provisória, cabendo-lhe essencialmente a tarefa de pôr o projecto em marcha e não permitir que discussões e debates espúrios continuem a bloquear uma acção que se entende urgente: produzir um jornal que ponha os trabalhadores na ribalta e em comunicação mútua.
No futuro próximo, uma vez garantido o bom «parto» do projecto, o carácter e estrutura da direcção terão de ser repensados.
RVP - Rui Viana Pereira
LA - Leonor Areal
Ana Azevedo
Ana Paula Pinheiro
Ana Martins
Bárbara Monteiro
Bárbara Sereno
Bruno Falcão Cardoso
Hugo Clarimundo
Maria José Araújo
Mariana Marques
Pedro Junqueira Lopes
Teresa Carvalho da Silva
Rui Viana Pereira
Rui Viana Pereira
Leonor Areal
colabora(arroba)afolha(ponto)pt
Como se diz no editorial fundador [2], quisemos criar um instrumento que favorecesse a visibilidade mútua dos movimentos sociais, e em particular nos trabalhadores organizados autonomamente (empregados ou desempregados); são eles o único sujeito legítimo das nossas notícias.
A nossa equipa de trabalho está ainda no seu início – contamos convosco para levar este jornal por diante.
Estamos fartos de má informação, de desinformação, de manobras mediáticas para baralhar os trabalhadores. Estamos fartos de opinadores ansiosos por explicar aos trabalhadores o que devem fazer e como devem fazer, o que devem pensar e o que não devem pensar.
Queremos fazer um tipo de informação que dê voz aos trabalhadores e aos movimentos cívicos; queremos ser independentes do poder político e económico. Para isso precisamos de gente disposta a trabalhar por esse objectivo.
Temos uma ideia própria de como fazer um jornal. Consulta os apontamentos e editoriais sobre a nossa maneira de trabalhar. Se estiveres de acordo com ela,
Contacta-nos através da página de contacto dos colaboradores [7]
Queremos fazer um tipo de informação que dê voz aos trabalhadores e aos movimentos cívicos; queremos ser independentes do poder político e económico. Para isso precisamos de gente disposta a trabalhar por esse objectivo.
Podes contribuir trabalhando directamente connosco, numa base regular. Ou simplesmente enviando-nos notas e contactos sobre os movimentos sociais em que participas.