por Bárbara Monteiro
A manifestação de estudantes que aconteceu segunda-feira, dia 10 de Dezembro, contra o encerramento da cantina, já deu resultados. Os estudantes do ISCTE reclamaram que ficariam sem um espaço para almoçar por preço acessível e que a alternativa que a universidade pública lhes dava era trazerem comida de casa ou recorrerem a bares privados que são muito mais caros. Ao fim de dia e meio de ocupação da cantina, os estudantes conseguiram ser ouvidos pelos reitores, que prometeram encontrar uma solução.
Depois de algumas dezenas de estudantes (em número variável entre 30 e 90 pessoas) ocuparem a cantina nova da Universidade de Lisboa, durante mais de 24 horas, alguns membros do movimento «Artigo 74º – Pelo Direito à Educação» conseguiram reunir-se na tarde de terça-feira com o reitor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Luís Antero Reto, e com o reitor da Universidade de Lisboa (UL), António Sampaio de Nóvoa. João Corvelo e Filipa Gonçalves, membros do movimento «Artigo 74º – Pelo Direito è Educação», declararam, depois das reuniões, que ambos os reitores estão disponíveis para negociar uma solução para a cantina não fechar. Os estudantes esperam que os reitores encontrem uma saída para este problema: «Caso não o façam, voltaremos à luta pela defesa de uma cantina que é de todos nós».
Foi entregue uma carta aberta durante as reuniões e, como explicou João Corvelo, as suas propostas vão mais além: «Estamos de acordo com a solução apresentada pelo Reitor, desde que a cantina permaneça no domínio público e funcione de acordo com o princípio da reciprocidade de modo a que alunos de outras Universidades a possam frequentar. Queremos também que seja garantido o posto de trabalho das funcionárias da cantina, pois apesar de pertenceram à empresa concessionária trabalharam muitos anos ao serviço destes alunos.»
Reivindicam ainda que seja alargado o horário de funcionamento desta cantina, para que os alunos do horário pós-laboral também tenham acesso a refeições de preço social, já que «o acesso às refeições deve ser um direito universal».
Manifestação e ocupação
A manifestação foi inicialmente convocada pelo movimento de facebook «Não ao fim da Cantina», com adesão imediata do movimento «Artigo 74º», constituído por estudantes de várias universidades e com percursos políticos muito diferentes, e ocupação da cantina. Os estudantes, apoiados pelas funcionárias daquele refeitório, mantiveram a ocupação até serem ouvidos pelo reitor do ISCTE.
A concentração foi marcada depois de os alunos e as funcionárias tomarem conhecimento da ordem de encerramento da cantina da Universidade de Lisboa, que serve em média 700 alunos por dia. A este respeito ver notícia anterior de A Folha: Não ao fim da Cantina Nova.
A decisão de encerramento foi tomada pelo senado da Universidade de Lisboa, que em comunicado afirmou que a cantina «é muito pouco utilizada pelos estudantes da Universidade de Lisboa», acrescentando que «a cantina serve apenas 20.000 refeições por ano aos estudantes da UL e 80.000 refeições por ano a outros estudantes, e tem um custo excessivamente caro para os serviços reduzidos que presta aos estudantes da Universidade de Lisboa». A UL informou ainda que teve o cuidado de contactar os responsáveis das outras instituições do ensino superior, em particular do ISCTE, tendo recebido a resposta de que «não havia qualquer necessidade ou interesse em viabilizar o funcionamento desta Cantina, estando garantido o fornecimento adequado de refeições aos estudantes dessa instituição».
O movimento «Não ao fim da Cantina» esclareceu que não é correcto dizer-se que a cantina serve 20.000 refeições por ano, pois de facto serve «100.000 refeições por ano, sendo 20.000 aos estudantes da UL e 80.000 a outros estudantes, de acordo com o comunicado da UL». Contudo, «estes números são baseados numa extrapolação do inquérito interno que indica que 20% são alunos da UL e 80% de outras instituições, visto que a Cantina Nova não dispõe de qualquer mecanismo de registo para aferir qual o tipo de utilizadores».
«É ainda importante referir que com o fecho da cantina nova, só nos resta a cantina localizada no interior do ISCTE que tem cerca de 60 a 70 lugares, o que é claramente insuficiente para os cerca de 9000 alunos que frequentam este instituto».