por LA
Os trabalhadores da Lusa – na sua maioria jornalistas, mas também administrativos e gráficos – iniciam esta quinta-feira uma greve de quatro dias contra o corte de 30% no contrato-programa do Estado com esta agência de notícias. “Esta greve foi pensada de forma a mostrar a falta que faz o trabalho da Lusa a todos os órgãos de comunicação social, sejam jornais, sites noticiosos, televisões e rádios”, disse ao Esquerda.net Sofia Branco, do Conselho de Redacção.
A Lusa divulga aos seus clientes, mensalmente, quase 12 mil notícias, em termos médios 392 notícias por dia, mais de 2.500 sons e vídeos, atendendo às necessidades das rádios, jornais e televisões. “A ideia de prolongar a greve para o fim de semana foi justamente pôr em evidência a importância que o nosso trabalho tem na informação veiculada sábado e domingo, e também nas informações publicadas nos jornais de segunda-feira”, explicou a jornalista.
Lusa é serviço público
Sofia Branco sublinhou que os trabalhadores esperam obter um recuo do corte cego anunciado pelo governo, que vai inviabilizar a qualidade do trabalho desenvolvido pela Lusa. “É que a Lusa não é uma empresa como outra qualqu
er. É, tal como a RTP, um serviço público. Isto quer dizer que a degradação do serviço da agência tem graves repercussões na própria democracia.”
A Lusa, explicou a jornalista, assegura uma cobertura noticiosa global, que nenhum outro meio nacional assegura, e assim garante a informação dos acontecimentos ocorridos em regiões do interior do país e outros que sem a Lusa passariam despercebidos. “Qualquer grupo de cidadãos sabe que pode telefonar para a Lusa a dar-nos uma informação, com a certeza de que nós iremos no mínimo confirmá-la e fazer a reportagem, se o acontecimento o justificar.”
Sindicato apela à solidariedade de empresas e público
O Sindicato dos Jornalistas (SJ), em comunicado de 17-10-2012, diz estar a participar activamente na luta desta empresa, através dos seus dirigentes e dos seus delegados sindicais, mas também tem vindo a trabalhar junto de variadas entidades com o objectivo de contribuir para persuadir o poder político a recuar nas suas intenções.
A Direcção do Sindicato dos Jornalistas está convicta de que a paralisação na Lusa privará a generalidade dos órgãos de informação de um decisivo volume noticioso durante quatro dias, e apela nomeadamente aos clientes da agência em geral e às associações patronais em particular para que se associem a este movimento e actuem junto do Governo e dos grupos parlamentares, para que as dotações do OE para a Lusa não sejam diminuídas.
O SJ apela também aos jornalistas e aos cidadãos para que aproveitem as iniciativas programadas pelas organizações representativas dos trabalhadores (ORT) da Lusa e participem especialmente nas concentrações e lhes prestem apoio junto dos piquetes de greve em Lisboa e no Porto (ver abaixo).
Segundo a TVI noticia, a hipótese de uma greve geral do sector dos média é cada vez mais uma possibilidade, de acordo com declarações de Alfredo Maia, presidente do Sindicado de Jornalistas. A crise que afecta vários sectores da sociedade não deixa a comunicação social incólume e os jornalistas começam a usar formas de contestação pouco usuais nestes meios. Os jornalistas nunca são notícia por estas razões, mas nos próximos dias vai-se ouvir falar muito dos dramas pessoais de muitos repórteres e críticas à gestão das empresas de média.
«Trabalho há mais de trinta anos e desde que me recordo este é o período mais negro da profissão, com despedimentos e encerramentos», fisse Alfredo Maia à Agência Financeira.
Muitos dos jornalistas que estão a ficar sem trabalho são os que há mais anos trabalham. São os séniores que estão a ficar sem emprego e isso reflete-se não só na memória, mas também na qualidade dos produtos. «É um desperdício, um capital que as empresas estão a deitar fora», lamenta Alfredo Maia. «As pessoas vão passar a ter menos informação, vão passar a ter uma informação de pior qualidade, vão passar a ter menos opções informativas», acrescenta o presidente do Observatório da Imprensa, Joaquim Vieira.
Uma crise que tende a agravar-se nos próximos tempos, com as constantes quebras de publicidade.
Confira os principais meios afectados nos últimos meses em Portugal:
«Público» - despedimento coletivo de 48 profissionais (36 dos quais da redação)
Agência Lusa - Corte de 30% das transferências do Estado (despedimentos à vista)
«Sol» - Cinco rescisões e não renovação de sete contratos a prazo
Revista Automotor - encerramento
Revista Autosport - venda com integração de alguns trabalhadores da Volante, que encerra
Revista Casa Cláudia - encerramento
Revista Casa Cláudia Ideias - encerramento
Revista Arquitetura e Construção - encerramento
Site Relvado - encerramento
Site My Games - encerramento
Grupo MediaCapital - despedimento de 30 profissionais da M80 e Star FM (emissão centralizada em Lisboa)
Grupo Impala - encerramento da revista Focus, despedimento coletivo de 24 trabalhadores em várias publicações
A PROPÓSITO DA GREVE NA AGÊNCIA LUSA
Os Trabalhadores da Agência Lusa iniciam na quinta-feira, dia 18, uma greve de quatro dias, contra a intenção do Governo de reduzir em cerca de 30 por cento o valor do contrato de serviço noticioso e informativo de interesse público. Essa redução comprometerá gravemente o funcionamento e a dimensão da rede nacional e internacional da Agência, bem como a qualidade editorial dos serviços por ela prestados.
Os órgãos representativos dos trabalhadores da Agência Lusa decidiram agendar as seguintes ações para os dias de greve:
Dia 18, quinta-feira:
- Concentração junto da Presidência do Conselho de Ministros, a partir das 11h.
- Concentração à porta da delegação da Lusa no Porto (Praça Coronel Pacheco), a partir das 10h, com a presença do presidente do sindicato dos jornalistas, Alfredo Maia.
- Acção de sensibilização junto às antigas instalações da delegação da Lusa em Coimbra, na Avenida Fernão de Magalhães, às 10h.
Dia 19, sexta-feira
- Concentração junto à porta lateral do Parlamento às 09h30.
- Deslocação às 11h00 do Parlamento para o jornal Público (Rua Viriato 13, metro Picoas), também em greve neste dia, no âmbito de uma acção convocada por jornalistas de diversos meios de comunicação social, em solidariedade com os jornalistas do Público e da Lusa. Esta mesma acção repete-se junto à sede da Agência Lusa, por volta das 13h.
- Debate sobre a situação da comunicação social, organizado em conjunto pela Lusa e pelo Público, no auditório do Polo das Indústrias Criativas da UPTEC, no Porto (Praça Coronel Pacheco), às 11h.
Dia 20, sábado:
- Acção de sensibilização junto ao café A Brasileira, à saída do metro da Baixa-Chiado, às 12h.
- Acção de sensibilização junto à Estátua do Ardina, na Praça da Liberdade, Porto, às 10h, seguindo para a Rua de Santa Catarina.
Dia 21, domingo:
- Acções de sensibilização feitas por diversos piquetes de greve junto dos restantes órgãos de comunicação social, clientes dos serviços da Agência Lusa.
Dia 22, segunda-feira
- Conferência de imprensa, às 11h, nas instalações do Sindicato dos Jornalistas, em Lisboa, com os representantes dos órgãos representativos dos trabalhadores, na qual será feito um balanço da greve e serão anunciadas novas ações.
Tendo presente que a Lusa distribui, por mês, quase 12 mil notícias e 30 mil fotografias, mais de 1000 sons, 850 vídeos, para além de assegurar um serviço de agenda nacional, regional e local, satisfazendo as necessidades de rádios, sites, jornais e televisões, os Trabalhadores da Agência Lusa lamentam os incómodos que esta greve possa causar aos restantes órgãos de comunicação social, clientes da Agência, mas apelam à sua compreensão e solidariedade e, sobretudo, à cobertura noticiosa destas acções de luta.
DESTRUIR A AGÊNCIA LUSA É ATACAR A DEMOCRACIA
OS TRABALHADORES DA AGÊNCIA LUSA.