por LA
Os jornalistas ao serviço do jornal "Público" repudiaram ontem, 10 de Outubro, o processo de despedimento colectivo comunicado de manhã pela Administração da Empresa e mandataram os sindicatos para a convocação de uma greve. Maria do Céu Lopes, da comissão de trabalhadores do diário, disse ontem ao i que não há data para o pré-aviso de greve nem para a greve em si.
O plenário já fora convocado na véspera, dia 9, e nele foi discutido o processo de despedimento colectivo que a empresa encetou, abrangendo 48 trabalhadores, dos quais 36 da área editorial e, entre estes, 28 jornalistas, processo esse que o Sindicato dos Jornalistas já repudiara (ver abaixo).
A moção aprovada pelos trabalhadores é do seguinte teor:
«Os trabalhadores do PÚBLICO, reunidos em plenário no dia 10 de Outubro, manifestam o seu total repúdio pelo despedimento colectivo acordado entre a administração e a Direcção Editorial.
Este despedimento inviabiliza a continuidade do PÚBLICO enquanto órgão de comunicação social de referência, viola o espírito do acordo celebrado com os trabalhadores a 29 de Dezembro de 2011, e compromete gravemente a responsabilidade social do accionista.
Os trabalhadores do PÚBLICO mandatam os sindicatos para iniciar de imediato um processo de greve e procurar formas de obstar ao despedimento anunciado.»
O jornal I adianta que:
«A decisão foi tomada após um plenário dos trabalhadores numa moção conjunta da comissão de trabalhadores e do conselho de redacção do jornal aprovada por maioria. Durante o plenário, alguns jornalistas pediram a demissão da direcção que assumiu ter começado a trabalhar neste despedimento em Março.
Os jornalistas classificam o processo de pouco transparente, na execução, nos objectivos, mas também nos critérios usados para a escolha dos jornalistas que deverão agora abandonar o jornal. Segundo o i apurou, quatro jornalistas que integram o Conselho de Redacção – que contestou as posições da direcção do diário aquando do caso das alegadas pressões do ministro Miguel Relvas a uma jornalista do diário – foram despedidos.
Por outro lado, o despedimento colectivo não abrange nenhum elemento da secção de cultura – ao único jornalista desta secção abrangido na reestruturação do jornal, Vítor Belanciano, assim como a António Cerejo e José Augusto Moreira terão sido propostas rescisões dos actuais vínculos contratuais para continuarem a colaborar com o jornal no regime de avença.
O facto de o objectivo ser reduzir os custos com pessoal em 2 milhões de euros anuais, mas de se manterem posições como a de correspondente em Washington é outro critério contestado.
No plenário realizado ontem no “Público”, a direcção do jornal, liderada por Bárbara Reis, justificou este despedimento como forma de preservar o diário, tendo assumido que a alternativa era o encerramento em Março.»
Segundo o Correio da Manhã, «o despedimento colectivo implicará o desaparecimento das editorias Local Lisboa e Local Porto, bem como da Agenda.» O jornal tem cerca de 240 funcionários, dos quais 190 jornalistas, que representam 12% dos funcionários da Sonaecom.
De acordo com o jornal I, nos últimos relatórios financeiros da empresa é referida uma redução considerável nas receitas de publicidade do diário, “fruto da deterioração do ambiente macroeconómico”. Neste mesmo relatório é referido, relativamente ao “Público”, que apesar de o jornal ser líder nas redes sociais, com mais de 250 mil seguidores, e das receitas digitais estarem a aumentar, “não foram ainda suficientes para travar a tendência negativa do mercado publicitário e das receitas de circulação da edição em papel.”
Ontem o Sindicato dos Jornalistas acusou o grupo Sonae e a Sonaecom – que tem como administradora executiva mais operacional no diário Cláudia de Azevedo, membro do Conselho Geral do “Público” – de sacrificarem quase 50 pessoas para não diminuírem os seus lucros.
O jornal Público, para além do comunicado da administração, não dá qualquer informação sobre a notícia que lhes diz respeito, o que não deixa de ser revelador do processo de censura interna subjacente que se deduz.