por LA
Quando se fala de lusofonia, pensa-se sempre nos países de língua portuguesa que foram colonizados por Portugal e esquece-se sempre a origem medieval do português como língua galaico-portuguesa. Na Galiza actual, apesar de o castelhano (língua politicamente imposta durante a ditadura) ser dominante nos meios urbanos, a língua nativa, o galego, assume-se sem equívocos como fazendo parte da Língua Portuguesa.
O Partido da Terra galego e a plataforma Bloco Laranja convocam para domingo, dia 27 de Janeiro, uma manifestação em defesa da sua língua, que é tão a mesma que a nossa, como se pode ver no texto do manifesto que transcrevemos em cópia fiel:
«O Partido da Terra chama à participação no Bloco Laranja que irá percorrer as ruas de Santiago de Compostela no domingo 27 de janeiro numa manifestação apoiada por um amplo leque de organizações e coletivos de defesa da língua. A manifestação, que partirá da Alameda às 12:00, também será uma das últimas oportunidades para apoiar a Iniciativa Legislativa Popular Valentim Paz-Andrade para o aproveitamento da língua portuguesa e vínculos com a lusofonia, que precisa de 15.000 assinaturas para ser levada ao Parlamento. O PT encoraja a membros, simpatizantes e pessoas amigas não só a assinar nesse dia mas a colaborar ativamente na recoleção de assinaturas».
A ILP Valentim Paz-Andrade dirige-se a «todos os galegos e galegas que acham que o nosso idioma é o mesmo do que falam mais de 200 milhões de pessoas no mundo, fato de que devemos tirar o máximo aproveitamento, na vez de vivermos de costas entre nós».
A iniciativa procura uma série de medidas que facilitem o acesso dos galegos ao universo de língua portuguesa e um maior relacionamento com a Lusofonia. Entre as propostas do articulado, colocadas ante os representantes dos três grupos parlamentares da câmara galega (PP, PSOE e BNG), figuram a progressiva incorporação do português no ensino, o fomento da participação das instituições e empresas galegas nos foros económicos, culturais e desportivos lusófonos, a recepção aberta das televisões e rádios portuguesas e o reconhecimento desta competência linguística para o acesso à função pública.
«O português é como um galego mais culto. Estudando português aprendo novas palavras galegas que não conhecia», diz Sabela, uma jovem aluna que começou recentemente um curso de português na Escola Oficial de Idiomas de Santiago e que, numa semana, percebe que «não há quase diferenças entre galego e português». Para o seu professor, Ângelo Meraio, um galego parte já com quase todo o cainho andado na hora de aprender o idioma português, como relata o jornal em castelhano El País. É que, sabendo galego, ou seja, português, é possível comunicar com mais de 200 milhões de habitantes no mundo. Depois do chinês, a seguir ao inglês e ao espanhol, está o português.
Os promotores da ILP explicam na exposição de motivos da proposta que «a nossa língua outorga uma valiosa vantagem competitiva à cidadania galega em todas as vertentes, nomeadamente a económica, desde que disponhamos dos elementos formativos e comunicativos para nos desenvolver com naturalidade no seu modelo internacional».
A Direção Geral de Política Linguística do Governo Galego lançou a campanha «O galego chave para os teus negócios no mundo»: «uma campanha dirigida ao mundo empresarial galego com o objetivo de lhe fazer ver que a nossa língua, como dizia Castelão, é extensa e útil. É a primeira vez que das instituições galegas é reconhecida de maneira oficial, e mediante uma campanha pública, o valor internacional do nosso idioma».
A ILP foi apresentada ao Parlamento em Maio de 2012, lembrando que Paz-Andrade, para além ser um dos principais impulsores da indústria pesqueira moderna galega, foi vice-presidente da Comissão Galega do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa que possibilitou a participação da Galiza nas reuniões para o acordo ortográfico da língua portuguesa que decorreram no Rio de Janeiro (1986) e Lisboa (1990).
O Partido da Terra, considerando que «como tantas outras cousas na nossa sociedade, o movimento normalizador necessita de novos ares, de um novo rumo que não jogue todas as cartas à ação institucional e ao vitimismo de sermos língua menorizada» e que «a situação da língua é delicada, mas é possível voltar a conectar com a sociedade, voltar a motivar, voltar a somar», apela aos colectivos reintegracionistas reunidos no Bloco Laranja para agir em três vertentes:
- «na promoção de espaços físicos de socialização em galego e polo galego em todas as comarcas do País,
- na promoção de redes cooperativas de ensino em galego e polo galego em que o galego não seja apenas a língua da docência, senão o projeto que aglutine toda a comunidade educativa: direção, docentes, mães e pais, crianças…
- no aproveitamento de recursos lusófonos em todos os âmbitos em que seja possível, fazendo do intercâmbio com os outros países de fala galega a aposta cultural fundamental do movimento normalizador até que se criem condições mais favoráveis para a cooperação linguística com os estados de língua portuguesa».
«São medidas simples que já se verificaram eficazes noutros países, porque não basta fazermos campanhas de promoção do galego: devemos fazer do galego uma opção interessante para as pessoas e para isso temos que ter em conta as pessoas».
O Partido da Terra é um partido «plural e integrador» que acolhe uma diversidade de «propostas orientadas ao conjunto da cidadania seguindo uma ética do bem comum». Defende e fomenta «uma transformação política que viabilize o exercício da democracia direta nas nossas paróquias e bairros assim como uma estrutura partidária aberta e participativa». Apresenta-se como «um partido comprometido com a defesa da Terra, do local ao global, advogando por uma conduta ética e consciente em relação à sustentabilidade planetária e ao direito dos povos à paz e ao desenvolvimento». E ainda «assume sem hesitação a potencialidade internacional da nossa língua como idioma extenso e útil, empregando e promovendo em todos os âmbitos a ortografia comum recolhida no Acordo Ortográfico».
Em suma, a ILC Paz-Andrade o PT galego promovem a adesão ao Acordo Ortográfico, em substituição da actual ortografia galega, na tentativa que já tem décadas de aproximar Galiza do espaço cultural lusófono, de partilhar aquela que consideram a sua língua genuína. Um caso que mereceria do lado de cá da fronteira (política mas fictícia) uma verdadeira atenção e reciprocidade.