por LA
Saiu o número zero do "Mapa - Jornal de informação crítica", com uma tiragem de 3000 exemplares e distribuição gratuita, «para ler, partilhar, oferecer ou largar nos transportes públicos, nas escolas, nas feiras, nas manifestações, na cidade ou no campo». Este «projecto de comunicação que nasce em tempos de crise» quer ser uma alternativa à informação «que emana da crise nas receitas da economia, nos lucros dos patrões, nos bancos e no consumo», pois «nada se compara à vida que resiste nas manifestações de rua, que entra pelas ocupações de edifícios abandonados, que se desbloqueia nas greves das fábricas e nos portos, que se planta nas hortas urbanas e que se incendeia nas fogueiras em S.Bento».
Segundo o seu editorial, «quando percebemos que as medidas e transformações a que assistimos não são apenas de natureza económica nem apenas por causa da crise é que percebemos que é o modelo económico, social e cultural a que chamamos capitalismo que se está a transformar e a renovar para que se possa manter durante muito mais tempo.»
O Mapa considera que só «o desenvolvimento da nossa capacidade de duvidar e agir pode abrir possibilidades para desafiar o controlo que o Estado, os bancos ou as grandes empresas têm sobre o nosso pão, a nossa saúde, a nossa habitação, a nossa educação e a nossa informação.»
Por isso, pretende contrapor-se ao jornalismo "de massas", cujo principal objectivo é «a criação de uma cultura de medo e a fabricação de opiniões», que funciona do seguinte modo: «A partir da divulgação de notícias e informações espectaculares, exageradas e, em muitos casos, a divulgação de mentiras, os vários meios de informação desejam criar o medo de certos sujeitos (grupos sociais, fenómenos e pessoas). Num primeiro momento, abrem o caminho para que deixemos de pensar e passemos a ter todos a mesma opinião, a mesma visão sobre os mesmos assuntos e, inevitavelmente, cheguemos às mesmas conclusões. Noutras alturas, a divulgação de notícias e informações cumpre um objectivo determinado, ou seja, está subordinada aos interesses políticos e económicos do canal informativo ou do jornal onde é publicada. Bastaria, para tanto, notar que os grandes jornais, televisões e agências de noticias não só pertencem a grandes e conhecidos grupos económicos como são a expressão dos partidos políticos das suas áreas de influência, de juízes e polícias.»
Em suma, «sob a forma de jornal, publicam-se e difundem-se notícias, reportagens, entrevistas, análises, fotografias e ilustrações que sejam um contributo para ultrapassar o tal sistema económico e social baseado no dinheiro, no poder, na dominação e na exploração». «Tratam-se elementos para a acção e o pensamento crítico».
O número zero impresso, datado de Novembro/Dezembro 2012, contém artigos sobre: os Bairros na Amadora que são um laboratório de experimentação disponível para que as autoridades treinem técnicas e métodos de actuação; a destruição dos solos através do aumento de nitratos nos rios, pesticidas na água potável, inundações; a transformação da região de Alcácer do Sal num futuro resort turístico, onde as populações perdem o direito a usufruir das praias da península de Tróia numa colonização levada a cabo por empresas poderosas; a chamada «reabilitação urbana» do Porto, pela qual toda uma nova cidade se planeia e se põe em prática, «já não para viver, mas para visitar», num «simulacro de vida citadina»; a juventude angolana e os seus porta-vozes rappers; a greve da fome nas prisões; o Festival FDP, cuja realização foi censurada por incomodar aos poderes de Rui Rio, presidente da Câmara do Porto; entre outros.
O Mapa pode ser também consultado online em www.jornalcritico.info. A Folha, partilhando dos mesmos princípios, deseja a esta publicação longa vida e muitos leitores.