por LA
Por Ana Requena Aguilar (publicado em El Diario)
As cooperativas de trabalho associado converteram-se para muitas pessoas numa alternativa para conseguir o seu próprio emprego. Nos últimos quatro anos, o emprego cooperativo caiu 8%, enquanto que em termos gerais a queda foi de 15%, em Espanha.
«Nunca tinha pensado que poderia ganhar a vida por minha conta, mas agora o que não me passa pela cabeça é voltar a trabalhar por conta de outrem», diz Paloma, que com mais de 50 anos tem atrás de si uma carreira profissional dedicada a estudos de mercado e que, depois de despedida, se tornou cooperadora de uma loja de produtos ecológicos num mercado de Madrid.
Como ela, quase 300 mil pessoas trabalham numa das 17 mil cooperativas «de trabalho associado» que existem em Espanha, um modelo empresarial onde objectivos económicos e sociais dão as mãos e têm conseguido resistir à crise melhor do que as fórmulas empresariais «tradicionais».
Desde 2008 até agora, o emprego cooperativo caiu apenas 8%, enquanto que em termos gerais a queda foi de 15%, em Espanha. Apesar de no último ano o mercado laboral ter destruído postos de trabalho a um ritmo superior a 4%, a destruição de emprego nas cooperativas está praticamente estável.
O presidente da Conferederação Espanhola de Cooperativas de Trabalho Associado (Coceta), Juan Antonio Pedreño, assegura que a força das cooperativas radica «no compromisso do grupo humano que faz parte delas». «Os associados e associadas adoptam medidas que consideram necessárias para manter os postos de trabalho, o que é a tarefa fundamental para que se criam cooperativas. Se há menor facturação porque há menos vendas, reduzem-se gastos, não se despedem pessoas, quando muito baixam-se os salários», diz.
Nas cooperativas de trabalho, a primeira prioridade é a manutenção do emprego e a tomada de decisões é horizontal: ainda que tenham órgãos dirigentes, é a assembleia de cooperadores – cujos votos têm o mesmo peso – quem toma as decisões ou delega o seu mandato nesses órgãos. Por lei, uma parte dos benefícios não pode ser repartida, mas deve reverter de alguma forma para o próprio projecto.
Atrás do balcão do seu posto no Mercado de San Fernando, Paloma e Asun atendem os clientes. A sua cooperativa, «A horta de Sol», nasceu da assembleia de desempregados de [Puertas del] Sol, concretamente do grupo de auto-emprego e cooperativas. Depois de meses de formação e jornadas, escutando-se uns aos outros, um pequeno grupo animou-se a criar este posro. Ao todo são nove: quatro sócios trabalhadores – todos maiores de 50 anos e vindos do desemprego – e outros cinco cooperadores.
«É uma solução emergente, uma necessidade, não há outra solução se queres trabalho. De momento dá-nos para cobrir os gastos. As decisões são tomadas em assembleia de trabalhadores uma vez por semana, a coisa está difícil, mas tenho fé que superaremos as dificuldades», explica Arun, que admite que às vezes necessitam de mediadores para resolver as dificuldades que surgem no dia-a-dia.
Segundo a Coceta, 80% das pessoas que trabalham em cooperativas têm um emprego estável, já que são sócios da cooperativa. Além disso, as mulheres ocupam 50% dos empregos e 40% dos postos de responsabilidade, «muito acima do resto das empresas», dizem.
Para o presidente do Observatório da Economia Social, José Luis Monzón, há vários factores que o explicam: «o seu modelo de governança (empresas com autogestão), e a política de pactos laborais entre os cooperativistas, que fazem ajustes principalmente congelando salários ou cortando jornadas, por exemplo. Não há milagres e é inevitável que sigam a tendência geral do mercado laboral, mas conseguem resistir melhor aos embates da crise».
«O que chega à cooperativa é repartido, dando primazia às pessoas e não ao capital.», diz Pablo Ascasíbar, uno de los miembros de Cooperama, a nova união de cooperativas de trabalho de Madrid. Ascasíbar assinala a intercooperação entre cooperativas como outra das chaves da sua resistência.
85% das novas cooperativas que se constituem estão no País Basco, Catalunha, Andaluzia e Múrcia. O País Basco é a comunidade onde o movimento cooperativo é mais forte e conta com algumas das cooperativas mais conhecidas e consolidadas. É o caso do grupo Mondragón, que agrega dezenas de cooperativas – entre as quais estão algumas marcas conhecidas, como Eroski e Fagor – empregando mais de 83 mil pessoas. Durante a crise, o emprego cooperativo apenas sofreu variações no País Basco. Em Múrcia, as cooperativas de educação – mais de oitenta – representam 50% da educação da região.
Uma cooperativa dedicada ao controlo de energia
Em Barcelona, desde finais de 2008, funciona a Cinergia, uma cooperativa dedicada ao controle inteligente de energia. A sua evolução tem sido imparável: começaram quatro pessoas e agora são quinze; os seus benefícios mais que duplicaram; se em 2009 facturaram cerca de 300.000 euros, no ano passado a facturação cresceu até 750.000 euros.
«Correu-nos bem pela nossa situação no mercado, ser cooperativa não interferiu na nossa actividade. O que provavelmente teria acontecido se, em vez de cooperativa fôssemos uma sociedade anónima, era que talvez o dono tivesse tomado decisões de direcção da actividade ou sobre dinheiro sem a nossa participação», explica Josep Rafecas, um dos cooperadores.
O presidente da Coceta, Juan Antonio Pedreño, assinala que pouco a pouco vão aparecendo profissionais que até agora estavam alheados do movimento cooperativo, como arquitectos, advogados ou engenheiros. «Partilham riscos e gastos num momento complicado», diz.
A Cinergia tem uma estrutura empresarial, mas na hora de tomar decisões fazem uma assembleia onde cada sócio tem o mesmo poder de decisão. «Sentimo-nos bem nas horas de trabalho. Não houve qualquer problema, os benefícios foram repartidos em assembleia, e quando foi altura de investir também foi decidido entre todos», conta Rafecas.
A ideia de criar um pequeno negócio andava nas cabeças de Mamen e sua sócia no final de 2011. «Tínhamos vontade de mudar de formato e começámos a falar com várias pessoas. Queríamos promover uma economia mais social e colectiva, e que, além de ter empregos dignos, tivéssemos as consciências tranquilas», explica Mamen. Uns meses depois, em Setembro, a sua cooperativa – Diwo, dedicada ao merchandising, ao design e à produção e edição de vídeos – começava a laborar em Madrid. Agora são quatro sócios trabalhadores e Mamen está contente com a sua evolução.
Como com outros projectos nos últimos meses, o 15M* deu-lhes um empurrão definitivo. «Fez-nos perceber que era possível e que não estávamos sós». Desde que começaram a funcionar, já puseram em marcha alguns projectos sociais que complementam a sua actividade.
O ano de 2012 que terminou foi declarado pela Nações Unidas como Ano Internacional das Cooperativas, para reforçar o seu valor e dar-lhes impulso. Em termos de emprego, as cooperativas dão trabalho a mais de cem milhões de pessoas em todo o mundo.
Em Portugal, a entidade que coordena os apoios e a certificação das cooperativas é a CASES - Cooperativa António Sérgio para a Economia Social, que, em 2012, editou o folheto «Geração Coop» sobre as vantagens da criação de cooperativas.